31/01/2012

Sobre o tal “Cadastro de Torcedores”

Você amigo torcedor que tem o costume de apreciar partidas de futebol in loco já deve ter sentido o real efeito da obrigatoriedade do tal “Cadastro de Torcedores”. Melhor dizendo, você deve ter perdido uma boa parte do primeiro tempo porque, como todo bom brasileiro, você deixou pra fazer o cadastro e comprar o ingresso poucos minutos antes do apito inicial, encontrou filas enormes e muita gente que também deixou pra fazer tudo isso de última hora.

Pra quem ainda não foi a nenhum jogo e ainda não sabe da lei, desde o fim do ano passado uma lei de autoria do deputado estadual Enio Tatto (PT) obriga os clubes a cadastrar todas os torcedores que compram ingresso para jogos oficiais no Estado.

Eu digo o real efeito do cadastro de torcedores porque, na minha opinião, esse cadastro não vai mudar absolutamente em nada a segurança dos estádios. Não acredito que “torcedores” vão deixar de arrumar confusão porque cadastraram seus documentos no ato da compra dos ingressos.

Também não acredito que isso acabe com os tradicionais cambistas. Primeiro, porque o cambista não compra ingresso na bilheteria do estádio, ele tem alguém que fornece os ingressos pra ele. Segundo porque, pra entrar no estádio, você não precisa de cadastro. Portanto, se você comprar o ingresso de um cambista, não fará a menor diferença se você tem ou não cadastro no momento da entrada.

Semana passada fui ver o jogo do Rio Claro FC no Schimitão. Sabendo do cadastro, entrei no site do time e fiz o cadastro online, antecipadamente. Cheguei no estádio bem em cima da hora do jogo, já temendo uma fila enorme pra comprar ingresso, porém, para a minha surpresa não havia ninguém na fila. Simplesmente cheguei, comprei o ingresso sem fornecer nenhum código ou documento e entrei no estádio sem sequer passar pela tradicional revista por policiais militares. Não se falou absolutamente nada sobre o tal cadastro e desconfio que os policiais da revista estavam mais preocupados com o jogo do que com os torcedores que entravam.

Hoje, fui novamente ao estádio Schimitão pra ver o jogo entre Rio Claro e São Carlos (jogo que terminou 2 a 1 pro Rio Claro, aliás). Diferente da semana passada hoje havia fila. E muita gente que estava na fila não tinha cadastro. Mas também não demorava muito não. As pessoas apenas forneciam o número de RG e pegavam o ingresso, sem maiores problemas. Eu havia feito o tal cadastro pelo site do Rio Claro FC, mas não me lembrava do código. Quando chegou minha vez chutei um número qualquer e a moça da bilheteria anotou em uma ficha e me deu o ingresso sem me perguntar mais nada. Aliás, dessa vez fui revistado antes de entrar.

A torcida do São Carlos só entrou lá pelos 20 minutos do primeiro tempo. Tenho certeza que tiveram que fazer o tal cadastro antes de entrar.

Eis um ponto, aliás, que eu ainda não entendi muito bem. Vou precisar fazer um cadastro pra cada estádio que for ver um jogo agora? Pelo que parece, sim. Um tremendo aborrecimento.

Quem frequênta estádio sabe que as brigas de torcidas organizadas acontecem fora do estádio e muitas vezes são marcadas muito antes do jogo. Todo mundo também sabe que a probabilidade de alguém ser preso por brigar com a torcida rival é praticamente zero.

Os cambistas também não devem desaparecer. Porque, na prática, não existe diferença nenhuma entre comprar da bilheteria com cadastro ou comprar do cambista sem cadastro na hora de entrar no estádio. Muito pelo contrário, se eu chegar ao estádio e ver uma fila enorme de gente fazendo cadastro na bilheteria é óbvio que vou procurar um cambista pra comprar ingresso. Quem, ao invés disso, ficaria na fila arriscando perder o primeiro tempo, pra comprar ingresso?

Então, caro deputado, pra que serve efetivamente esse tal cadastro?

Nenhum comentário: